Igarapés: artérias da vida
Outubro de 2018
Por muito tempo os igarapés cortavam e irrigavam as terras onde foi erguida Manaus. Suas límpidas águas transbordavam vida e seus leitos abrigavam peixes e répteis. Nestas margens, árvores frondosas, mato rasteiro, flores, cipós entre outras espécies de vegetação protegiam o solo e perfumava o ar. Nas terras alagadas várias palmeiras cresciam e embelezavam o cenário, dentre elas o Buriti. Esse cenário paradisíaco possuía incontáveis números de animais que buscavam alimentos, sem preocupar-se com desequilíbrio da vida na floresta. “Igarapé”, em Tupi, significa “caminho de canoa”. No entanto, o modo como os indígenas nominalizaram estes estreitos e rasos canais entre duas ilhas (ou entre uma ilha e a terra firme) deixou de fazer sentido nos dias atuais em Manaus.
Com o tempo veio o homem: derrubou as árvores, matou animais sem necessidade, construiu um conjunto de barracos e casebres aos quais chamou de vila, e da água do igarapé bebeu. Derrubou mais árvores, abateu mais vida silvestre (nem sempre para alimentar-se), construiu mais casas, ruas, prédios, batizou de cidade e jogou lixo no igarapé.
Posteriormente, a ZONA FRANCA! Mais moradia, mais gente que, sem espaço em terras secas, usou as margens do igarapé e suas áreas alagadas para construir casas altas, as palafitas. O espaço antes feito de chão, dono de uma mistura de cores proveniente de areia, barro, musgos foi escurecido pelo resíduo do petróleo. O ambiente de cimento armado predominou, no qual o verde deu lugar ao cinza do calcário. A essa floresta de concreto, o humano dito “civilizado”, batizou de metrópole e as águas límpidas do igarapé tornou-se depósito de diferentes resíduos e de desrespeito a vida.
Os igarapés que foram artérias hídricas da pequena Manaus, lutam sob a egocêntrica metrópole. A resistência também é a vida dos poucos habitantes de sua margem e dos apaixonados por sua natureza que, anonimamente, buscam salvar suas águas. Tarumã , 40 e Glória são alguns desses igarapés sobreviventes.